*Escrito por Dr. Wilson Rondó (CRM47078)
O mantra de que a gordura saturada deve ser removida para reduzir o risco de doença cardiovascular tem dominado conselhos e diretrizes dietéticas durante quase quatro décadas.
E agora não é diferente…
Recentemente, a American Heart Association anunciou as “velhas” recomendações alimentares de que as gorduras saturadas sejam substituídas por óleos mono ou polinsaturados, pois “velhas” pesquisas cientificas “bem” conduzidas, (bem conduzidas?) apoiam essas determinações para prevenção de doenças cardiovasculares.
No entanto, evidências científicas mostram que este conselho, paradoxalmente, aumentou nosso risco cardiovascular…
Ensaios clínicos deturpados, gerando diretrizes alimentares deturpadas
Os benefícios alardeados para a mortalidade cardiovascular e a redução dos fatores de risco tem sido conflitantes. Nenhum desses ensaios clínicos mostrou com certeza que restringir as gorduras saturadas reduziu a mortalidade total.
Além disso, as alegações anunciadas, baseadas em quatro grandes ensaios clínicos, usadas como evidência científica, basearam-se em experimentos deturpados, gerando diretrizes deturpadas, que não refletem o que os estudos mostram.
Agora, vejam os problemas com os estudos que foram usados como base:
1) Ensaio clínico 1 – de Dayton et al. (1969)
Não fornece detalhes sobre a composição da dieta. No entanto, o consumo de colesterol no grupo de gordura saturada foi de 653 mg/dia, e no grupo experimental, foi 365 mg/dia, sugerindo que as gorduras saturadas foram principalmente derivadas da gordura animal. Os dois grupos apresentavam padrões diferentes de tabagismo.
O número de mortes por causas não ateroscleróticas no grupo da gordura saturada foi 71, e no grupo experimental (gordura polinsaturadas) foram 85 mortes, sendo que a maior incidência da diferença ocorreu na última parte do estudo. A composição de ácidos graxos de óleo de coco é diferente da gordura animal e não contém colesterol.
2) Ensaio clínico 2 – By Leren Oslo Diet Heart Study (1968)
Um estudo com 412 homens, entre 30 e 64 anos de idade, observou que ingerindo uma dieta pobre em gorduras saturadas e rica em gorduras polinsaturadas não houve influências nas taxas de morte súbita.
Forneceram-se dados significativos a favor de níveis menores de colesterol, pela redução da ingesta de gordura saturada e eventos cardiovasculares. No entanto, neste grupo de ensaio, com baixo teor de gordura saturada (grupo experimental) foram fornecidos aproximadamente 5g de ácidos graxos ômega 3 que teriam reduzido a ocorrência de eventos cardiovasculares independente dos efeitos da gordura saturada.
A informação da dieta do grupo de controle não foi fornecida. O grupo experimental também foi encorajado a aumentar a ingestão de vegetais,
frutas e nozes.
3) Ensaio clínico 3 – do British Medical Research Council (1968)
Nesse estudo de cerca de 400 homens, acompanhados entre 2 e 7 anos, não se observou diferença entre a taxa de ataque cardíaco entre homens que seguiam a dieta pobre em gordura saturada e rica em óleo de soja e os que seguiam a dieta normal, com gordura saturada. Comparou-se o efeito do óleo de soja (86 g/dia) como um meio de reduzir os níveis de colesterol na mortalidade cardíaca, infarto e morte súbita em comparação a dieta rica em gorduras saturadas de gorduras animais.
Neste estudo, não houve diferença estatística significativa entre os 2 grupos em termos de eventos totais, eventos principais (morte ou Re-infarto definitivo). Segundo os autores, não houve evidências de que a taxa de recaída do infarto do miocárdio é materialmente afetada pelo teor de gordura insaturada da dieta utilizada.
Evidências científicas de que a gordura saturada NÃO é a vilã
Revisão científica publicada em 2013 no British Medical Journal (BMJ), escrita por um especialista em Cardiologia Intervencionista em Londres, Dr. Aseem Malhotra, mostra que tudo o que é conhecido até hoje sobre a ingestão de gordura saturada e doenças cardíacas não apoia qualquer associação significativa entre gordura saturada e risco cardiovascular.
O Dr. Malhotra relata que dois terços das pessoas internadas em hospitais com infarto agudo do miocárdio têm níveis de colesterol completamente normais. Ele também menciona um ensaio controlado aleatoriamente publicado recentemente, que foi interrompido logo após mostrar que, em pessoas de alto risco, a dieta mediterrânea conseguiu uma melhoria de 30% em relação a uma dieta de baixo teor de gordura em termos de eventos cardiovasculares.
Análise de dados de 72 estudos separados sobre risco cardíaco e ingestão de ácidos graxos, realizados pela Universidade de Cambridge, cuja meta-análise maciça incluía dados de 600.000 participantes em 18 países, concluiu que a gordura saturada NÃO está ligada ao risco de doença coronariana.
Um editorial publicado no Archives of Internal Medicine, em 1992, realizado pelo Dr. William Castelli, ex-diretor do estudo Framingham Heart, declarou que:
“Quanto mais gordura saturada se come, mais colesterol se ingere, mais calorias se absorve, menor o colesterol sérico da pessoa. O oposto do que Keys e colaboradores previram… Nós descobrimos que as pessoas que comeram mais colesterol, comeram a gordura mais saturada, comeram a maioria de calorias, pesaram menos e eram fisicamente mais ativas.”
Uma meta análise de 2010, que reuniu dados de 21 estudos e incluiu quase 348.000 adultos, não encontrou diferença nos riscos de doença cardíaca e acidente vascular encefálico entre as pessoas com as menores e maiores ingestões de gorduras saturadas.
Outro estudo de 2010, publicado no American Journal of Clinical Nutrition, descobriu que uma redução na ingestão de gordura saturada deve ser avaliada no contexto de substituição por outros macronutrientes, como carboidratos.
Uma meta análise de 2014 publicada nos Annals of Internal Medicine usou dados de quase 80 estudos e mais de meio milhão de pessoas. Eles descobriram que aqueles que consomem maiores quantidades de gordura saturada não têm mais doenças cardíacas do que aqueles que consomem menos. Também não foram encontradas menos doenças cardíacas entre aqueles que comem maiores quantidades de gordura insaturada, incluindo tanto o azeite como o óleo de milho.
Quando você substitui a gordura saturada por uma maior ingestão de carboidratos, particularmente carboidratos refinados, você exacerba a resistência à insulina e obesidade, aumenta os triglicérides e pequenas partículas de LDL e reduz o colesterol HDL benéfico. Os autores afirmam que os esforços dietéticos para melhorar o seu risco de doença cardiovascular deve enfatizar principalmente a limitação da ingestão de carboidratos refinados e redução de peso.
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